ABEN defende atualização na lei que rege a regulação da segurança nuclear
Economia | Por em 12 de março de 2013
Vice-presidente da Aben ministrará palestra sobre segurança no IV Seminário Internacional de Energia Nuclear, programado para abril
Embora a proporção de acidentes no setor nuclear seja ínfima se comparada à proporção de outras áreas, eles tornam-se marcos para a evolução da segurança nuclear nacional e internacional. “Infelizmente, os acidentes são as referências de eras. Pode-se notar claramente nas publicações da AIEA a ênfase em emergência e proteção ambiental após o acidente de Chernobyl, em 1986, além da forte recomendação de defesa em profundidade. Após o acidente radiológico em Goiânia, a ênfase incluiu o controle de fontes radiativas e o reforço aos órgãos reguladores. Com o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 (evento não nuclear), a segurança física aumentou de importância. Naturalmente, o Brasil acompanhou essas eras. Entretanto, falta ao país atualizar a legislação que rege a atuação regulatória da segurança nuclear”.
A análise é 1ª vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Patricia Wieland, que vai representar a entidade no durante o IV Seminário Internacional de Energia Nuclear, que acontece nos dias 24 e 25 de abril, no Rio de Janeiro, em parceria com a ELETROBRAS ELETRONUCLEAR, AREVA Brasil, GENPRO e outras empresas públicas e privadas do setor de energia. O evento conta com o apoio da ABEN como parceira institucional, além da ABDAN, CNEN, ABCE, apoio de mídia da Brasil Energia e Petronotícias e participação de diversos convidados e profissionais de organismos brasileiros e estrangeiros ligados ao setor nuclear.
Patricia Wieland, que é pesquisadora titular e Diretora Adjunta do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/Cnen), com experiência profissional na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ministrará uma palestra sobre segurança nuclear, comunicação em situação de crise e a necessidade de articulação e cooperação entre agências reguladoras, órgãos e unidades de pesquisa.
Segundo a vice Presidente da ABEN “A partir do acidente na central nuclear japonesa de Fukushima Daii-chi, houve um grande interesse entre os órgãos reguladores de segurança nuclear de todo o mundo de extrair as lições para a melhora contínua da segurança nuclear. É importante analisar todas as questões importantes que falharam em Fukushima para garantir a atuação de dispositivos de segurança em qualquer situação de ameaças internas ou externas”, argumenta.
“Os acidentes nucleares podem ultrapassar fronteiras e, portanto, países colaboram mutuamente. Em junho de 2011, os representantes das autoridades regulatórias, membros do Foro Iberoamericano de Organismos Reguladores Radiológicos y Nucleares (Foro) que possuem centrais nucleares (Brasil, Argentina e México), propuseram a realização de uma avaliação de resistência em suas centrais, considerando o acidente de Fukushima, para detectar eventuais debilidades e implementar as correspondentes melhorias. Para tal, tomaram por base os stress tests implementados pela Western European Nuclear Regulators Association (Wenra), European Nuclear Safety Regulatory Group (Ensreg) e Consejo de Seguridad Nuclear de España (CSN). O relatório do Brasil foi entregue ao Foro em maio de 2012”, completa.
Em relação ao Brasil, Patricia Wieland crê que a segurança nuclear é uma preocupação constante. “Segurança nuclear sempre foi um elemento estratégico no país. Pode-se notar sua importância desde a criação da Cnen e pela escolha dos modelos e fabricantes das usinas nucleares brasileiras. O Brasil ratificou todos os acordos e convênios internacionais que visam à segurança nuclear. Atualmente, o Brasil tem representante em todos os comitês de segurança da AIEA e é convidado para ser perito em várias missões”, explica.
Ela também detalha os mecanismos utilizados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) para garantir a maior segurança possível de fontes e instalações radiativas e nucleares. “A Cnen está organizada em duas diretorias técnicas e uma administrativa. A Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS) atua como a parte regulatória, no controle de materiais nucleares e de fontes radiativas; licenciamento de instalações; certificação de pessoas para determinados tipos de atividade, como operadores de reator nuclear e supervisor de proteção radiológica; inspeções; auditorias; atualização das normas nucleares; comunicações com os regulados sobre boas práticas e lições aprendidas; capacitação dos reguladores; e intercâmbio de informações com outros reguladores e com a AIEA. A outra diretoria técnica é a Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), na qual sete instituições de pesquisa vinculadas realizam pesquisas em várias áreas, inclusive em segurança nuclear, proteção radiológica, dosimetria e metrologia das radiações. Várias delas possuem programas de pós-graduação stricto sensu e oferecem cursos de capacitação”, informa a 1ª vice-presidente da Aben.
“A Cnen-DRS segue acompanhando as ações pós Fukushima dentro do programa de licenciamento das instalações nucleares. Imediatamente após o acidente, a comissão abriu no site <www.cnen.gov.br> um espaço para atender à demanda de informações e esclarecimentos, principalmente dos milhares de brasileiros que moram no Japão. Além disso, o Brasil integra um seleto grupo de treze países que utilizam um sistema computacional (Argos) para o acompanhamento de situações de emergência com liberação de material radioativo. O Argos possibilita avaliar a intensidade e o deslocamento da radioatividade liberada e as possibilidades de liberações futuras, fazendo previsões sobre o nível de radioatividade ambiental. Com isso, permite um planejamento mais preciso das medidas a serem adotadas para proteção da população, restrições ao uso de áreas afetadas, cuidados na produção de alimentos, entre outras ações necessárias. Nesta atividade, a Cnen conta com a colaboração de especialistas do Inpe”, finaliza.
Com a construção de Angra 3 em andamento e o consenso da necessidade da construção de novas centrais nucleares, o debate sobre novas tecnologias, soluções, equipamentos e mão de obra para atender o Programa Nuclear Brasileiro, se torna muito oportuno. O IV Seminário Internacional de Energia Nuclear prevê palestras, painéis e debates sobre gestão, prevenção de riscos e respostas rápidas a desastres naturais, com ênfase na comunicação e informação para a rápida mobilização, além de trazer experiências do Brasil e do exterior sobre planos de emergência, monitoramento climático etc.
Outra discussão importante que está programado no evento envolve a flexibilização do setor nuclear, já em estudo no governo, de forma a permitir uma participação maior do setor privado, com a possível quebra do monopólio estatal, e dessa forma suprir a carência de recursos externos ao programa de instalação de novas usinas nucleares brasileiro, que se acirrou depois do acidente de Fukushima.
SERVIÇO – As inscrições para participação no evento podem ser feitas pelo email inscricao.planeja@gmail.com, além dos telefones (21) 2262-9401 / 2215-2245. As empresas de engenharia, tecnologia, fabricantes de materiais e equipamentos e prestadores de serviços interessados em patrocinar ou apresentar palestras técnicas sobre soluções e tecnologias para o setor nuclear podem entrar em contato com a área comercial da Planeja & Informa Comunicação e Marketing, através do telefone (21) 2244-6211.