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Será que o seu problema é hora extra?

Icone Sem categoria | Por em 10 de novembro de 2024

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POR AUGUSTO ZARPON

Quando se fala em aumentar a produtividade e reduzir custos, muitos gestores ainda veem as horas extras como uma solução imediata. Ampliar a carga horária parece uma resposta simples para cumprir metas ou atender demandas imprevistas. Mas será que o problema está realmente na falta de tempo, ou estamos negligenciando causas profundas de ineficiências no processo produtivo?

Em muitos casos, os problemas de produtividade não estão relacionados à falta de horas de trabalho, mas sim a desperdícios escondidos nas operações diárias. Essas ineficiências, que chamamos de desperdícios, consomem tempo e recursos sem agregar valor ao produto ou serviço final. AO FOCAR APENAS EM AUMENTAR AS HORAS TRABALHADAS, DEIXAMOS DE LADO A OPORTUNIDADE DE RESOLVER ESSES PROBLEMAS DE FORMA DEFINITIVA, CRIANDO UMA ROTINA MAIS PRODUTIVA E SUSTENTÁVEL.

Horas extras podem ser prejudiciais por vários motivos. Primeiramente, elas aumentam os custos operacionais da empresa, já que a mão de obra fora do horário regular é mais cara. Além disso, o excesso de horas extras impacta a saúde e o bem-estar dos colaboradores, levando a uma queda na produtividade, aumento de erros e defeitos, e em casos mais graves, a maior rotatividade de pessoal e absenteísmo. A solução não está em sobrecarregar a equipe com mais tempo de trabalho, mas em entender o que está criando a necessidade dessas horas adicionais.

A superprodução, por exemplo, gera estoque em excesso que precisa ser gerenciado, resultando em uma demanda maior de trabalho. Em vez de resolver o problema, muitas empresas optam por horas extras para “dar conta” dessas tarefas adicionais, sem perceber que estão perpetuando o ciclo de desperdício. A ferramenta de controle de estoque, combinada com a curva ABC e análises de demanda, pode ajudar a evitar esse tipo de cenário, reduzindo tanto o excesso de produção quanto a necessidade de horas adicionais.

Outro exemplo claro é a espera. O tempo que os funcionários perdem aguardando por materiais, aprovações ou máquinas reparadas é um desperdício puro. E, ao invés de buscar soluções como melhoria no planejamento e manutenção preventiva, muitas empresas simplesmente sobrecarregam a equipe com mais horas de trabalho para compensar o tempo perdido. A aplicação de um diagrama de Ishikawa ou uma análise de fluxo de valor pode ajudar a identificar onde ocorrem esses gargalos e eliminar a necessidade de tantas horas extras.

O transporte desnecessário de materiais dentro da fábrica é outro exemplo clássico de desperdício. Movimentações mal planejadas geram atrasos e ineficiências. Melhorar o layout da planta com base em estudos de movimentação pode reduzir significativamente esse problema. Se não corrigido, o transporte ineficaz muitas vezes leva as empresas a estender a jornada de trabalho para que a produção seja completada, quando uma reorganização do espaço poderia resolver o problema de forma mais eficiente.

A movimentação desnecessária dos colaboradores dentro de áreas de trabalho é outro fator que contribui para o tempo improdutivo. Espaços mal organizados ou processos com etapas redundantes fazem com que os funcionários percam tempo e energia. Ao aplicar a análise ergonômica e kaizen, é possível otimizar o ambiente e o fluxo de trabalho, minimizando a necessidade de horas extras.

O processamento excessivo, que ocorre quando atividades ou inspeções desnecessárias são realizadas, também leva ao uso de horas extras. Quando processos são repetidos ou realizados com mais complexidade do que o necessário, os colaboradores acabam sobrecarregados e dedicam mais tempo para realizar tarefas que poderiam ser simplificadas. Ao revisar e padronizar os processos, é possível eliminar essas etapas extras, resultando em economia de tempo e redução de horas adicionais.

O estoque excessivo representa outro fator que gera demanda extra de trabalho. Materiais e produtos armazenados além do necessário ocupam espaço, precisam de manuseio constante e geram um esforço adicional para que a produção flua. Esse acúmulo pode levar a mais horas de trabalho para controle, organização e processamento de estoque. Ao ajustar a produção e aplicar métodos de controle de inventário, é possível reduzir esse desperdício e a necessidade de horas extras para manter o estoque em ordem.

Os defeitos e o retrabalho também são grandes vilões quando falamos de horas extras. Quando a qualidade dos produtos não é garantida, a equipe precisa refazer trabalhos, estendendo a jornada para corrigir erros que poderiam ter sido evitados. Implementar Controle Estatístico de Processo (CEP) e trabalhar com Six Sigma são soluções comprovadas para reduzir a variabilidade e garantir que a produção aconteça com a qualidade certa desde o início, eliminando a necessidade de retrabalho e horas extras.

Além disso, muitas empresas desperdiçam o talento dos colaboradores ao alocá-los em atividades que não utilizam suas habilidades de forma plena. Esse desperdício de talento impacta a moral e a produtividade, muitas vezes resultando em horas extras para compensar essa subutilização. Envolver os colaboradores na identificação de melhorias e no redesenho dos processos pode não só reduzir a necessidade de horas extras, mas também aumentar a satisfação e a eficiência.

A grande vantagem de aplicar as ferramentas da qualidade, como PDCA, Pareto e diagrama de Ishikawa, é que elas permitem ir à raiz do problema. Ao invés de simplesmente adicionar horas à jornada de trabalho, essas ferramentas nos ajudam a identificar quais etapas do processo produtivo estão gerando os problemas e como podemos eliminá-los. Dessa forma, em vez de trabalhar mais, a equipe trabalha melhor, com menos estresse, mais produtividade e menos desperdício.

No fim das contas, a prática de horas extras em excesso não resolve os problemas de produtividade, apenas os posterga e muitas vezes, os agrava. Ao identificarmos e eliminarmos os desperdícios presentes no processo produtivo e aplicarmos as ferramentas da qualidade de maneira eficaz, conseguimos reduzir a necessidade de horas extras e ao mesmo tempo, aumentar a eficiência, a satisfação dos colaboradores e claro, a rentabilidade da empresa.

Assim, antes de recorrer à carga horária adicional, pare e pense: será que o seu problema realmente é a falta de tempo, ou os desperdícios estão levando sua empresa a acreditar que horas extras são a única saída? A verdadeira melhoria não está em trabalhar mais, mas sim em trabalhar melhor.

Augusto Zarpon é engenheiro, especialista em Lean, Six Sigma e gestão de operações, com vasta experiência em grandes multinacionais e como empreendedor na indústria de alimentos. Como instrutor técnico no SENAI, ele compartilha seu conhecimento para aumentar a empregabilidade dos profissionais e ajudar as empresas a alcançarem a excelência operacional e estratégica.

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SOBRE O BLOG INDUSTRIAL

O Blog Industrial acompanha a movimentação do setor de bens de capital no Brasil e no exterior, trazendo tendências, novidades, opiniões e análises sobre a influência econômica e política no segmento. Este espaço é um subproduto da revista e do site P&S, e do portal Radar Industrial, todos editados pela redação da Editora Banas.

TATIANA GOMES

Tatiana Gomes, jornalista formada, atualmente presta assessoria de imprensa para a Editora Banas. Foi repórter e redatora do Jornal A Tribuna Paulista e editora web dos portais das Universidades Anhembi Morumbi e Instituto Santanense.

NARA FARIA

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), cursando MBA em Informações Econômico-financeiras de Capitais para Jornalistas (BM&F Bovespa – FIA). Com sete anos de experiência, atualmente é editora-chefe da Revista P&S. Já atuou como repórter nos jornais Todo Dia, Tribuna Liberal e Página Popular e como editora em veículo especializado nas áreas de energia, eletricidade e iluminação.

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