por João Roncati*
Governos, sociedades, corporações de todos os tipos e até os núcleos familiares passam por uma alteração muito palpável nos últimos tempos, completamente ligada à revolução tecnológica que o mundo está vivendo e ela chegou, inevitavelmente, à indústria farmacêutica.
Se o futuro do trabalho na 4ª Revolução Industrial, por si só, é uma das questões intrigantes em vários setores de mercado, imagine quão impactante ele pode ser para esse setor, que preza pelo cuidado com as pessoas e tem um potencial gigantesco para estar a par dessa transformação digital?
É possível ver que para a indústria farmacêutica, o momento é favorável em termos de transformação tecnológica e digital. Imagine que com um robô colaborativo é possível fazer processos como verificação de rotulagem, carga e descarga de máquinas, manipulação de produtos, entre outras atividades onde a interação “homem-máquina” produz resultados melhores que um dos dois (homem e robô) isoladamente.
Mas a digitalização das empresas farmacêuticas, ou a sua adesão à 4a Revolução Industrial precisa passar por algumas reflexões.
Os impactos desta Revolução se estenderam pelo menos em 4 frentes: mudanças da matriz tecnológica da geração das soluções (tratamentos), no acesso (canal pelo qual o medicamento chega à sociedade), no relacionamento com pacientes e na estrutura da indústria.
É preciso observar detalhadamente cenários e variáveis que podem nos ajudar na reflexão. O estudo “O futuro do emprego: quão suscetíveis são os trabalhos à informatização”, de Michael A. Osborne, do Departamento de Ciência de Engenharia da Oxford, e Carl Benedikt Frey, da Oxford Martin School, por exemplo, estima que 47% dos empregos nos Estados Unidos correm o “risco” de serem automatizados nos próximos 20 anos.
E a revista The Economist é taxativa quanto à previsão dos países para o que virá: “Nenhum governo está preparado”, definiu a publicação em um artigo de 2014, que ainda reverbera dentro das organizações do mundo inteiro.
Mesmo que a indústria farmacêutica já viva uma realidade de muita automatização, é preciso ultrapassar a ideia de que apenas postos de trabalho operacional serão afetados, pois a mudança vai além.
Atualmente, profissionais altamente especializados, por exemplo, “balançam em cima de uma corda bamba”, impactados por uma adoção crescente de IA (inteligência artificial), como advogados, médicos, contadores, auditores e muitas outras. O impacto deve ser visto sobre a cadeia de valor de toda a indústria.
Adaptações: ser analítico e trabalhar em equipe
Olhando para o âmbito interno, ampliar o mundo “digital”, significa também mudar algumas das competências essenciais da indústria farmacêutica.
Digo com frequência que algumas competências serão vitais nesse processo: ser capaz de analisar e usar base de dados de forma integrada, trabalhar fortemente em equipe, manter pensamento sistêmico, buscar eficiência e estar, de fato, disposto a dialogar com a diversidade e com a cooperação. Parece simples, mas é uma tarefa e tanto quando se fala em uma mudança em grandes escalas.
Automação não é coisa nova. Mas a digitalização, no âmbito da “bio interação” é. É papel e responsabilidades dos líderes do setor, aprofundar o debate e buscar o melhor impacto social no uso da tecnologia massiva. Colocar luz sobre a humanização dos processos e entender os efeitos, sejam positivos ou negativos, para ser protagonista da transformação.
Acredito que, por um bom tempo, viveremos debates que se dividem entre “otimistas e pessimistas”, em situações de incongruência e dilemas, até “acertamos o ponto” e compreendermos em qual espectro trabalharemos nos próximos anos e que eu espero, seja de ampliarmos a qualidade de vida da humanidade.
*diretor da People + Strategy
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