Artigo – Desaceleração da economia não altera cenário de investimentos no Brasil
Análise,Artigo,Economia,Perspectivas | Por em 4 de fevereiro de 2015
A sinalização do mercado de capital é positiva. Este deve ser um ano promissor quanto à manutenção e o crescimento do interesse de investidores nacionais e estrangeiros em médias e grandes empresas brasileiras. Acredito que teremos mais fundos soberanos vindos para o Brasil em 2015 e 2016. Houve uma evolução nos negócios, principalmente nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Espírito Santo e Piauí.
Investimentos nos setores da construção, logística – o grande desafio -, varejo farmacêutico e de eletrodomésticos, refeições coletivas e portos particulares (para apoiar o escoamento da produção agrícola e industrial) são os que vêm atraindo mais olhares. O setor educacional segue em consolidação, comandado pela Kroyon Anhanguera e grupos regionais buscando sócios investidores para defender seu negócio.
Lembro que, há 20 anos, antes da estabilidade trazida pelo Plano Real, o capital era volátil; entrava e saía, sem expectativas de ficar. Hoje, apesar da crise de confiança na economia, os fundos pensam em ficar em média sete anos para ter o payback em retorno de três vezes ou mais do investimento.
Levantamento do Centro de Estudos de Private Equity (PE) e Venture Capital (VC) da Fundação Getúlio Vargas (SP) reforça essa expectativa quando mostra que os fundos injetaram cerca de US$ 7,6 bilhões no país ao ano, entre 2010 e 2013. Este valor investido é o dobro do volume aportado no Brasil nos três anos anteriores ao período analisado. Os autores da pesquisa também projetam um aumento de 15% a 20% ao ano do capital comprometido da indústria de PE/VC no Brasil.
Mas alguns percalços na economia podem mexer com o quadro de investimentos. Na Infraestrutura, a Operação Lava Jato entrou de frente nas gigantes do setor, o que abre espaço para que novas empresas surjam nessa brecha de oportunidades. Empresas terceirizadas, por exemplo, podem ter bons ativos, mas, por conta da crise, vão precisar se reinventar. O mesmo vale para a cadeia de gás e óleo.
A crise de confiança na economia também tem mexido com os ciclos de negociação dos fundos private equity que investem no Brasil, que estão com maior nível de detalhamento e análises mais demoradas. No primeiro semestre de 2014, por exemplo, fundos de PE e VC fecharam 74 operações no Brasil, enquanto no mesmo período de 2013 foram concluídas 115 transações, de acordo com a consultoria TTR.
Mas não gosto de olhar o Brasil como um todo. Precisamos atentar para os investimentos em cidades menores – também uma novidade de 15 anos para cá. O segredo está em olhar para médias empresas em microrregiões com perspectivas de crescimento acima da média, como, por exemplo, Campina Grande (PB), com um polo de tecnologia em formação; Teresina (PI), com instalações da indústria de energia eólica; a fronteira agrícola de MAPITOBA (Maranhão/Piauí/Tocantins/Bahia); e Joinville (SC), que em breve receberá uma fábrica da BMW, só para citar algumas”, analisa Bertozzi.
Olhando esse cenário verifica-se que ainda há muito a se prospectar no país. Esse crescimento no interior torna as empresas locais/regionais – com perfil quase sempre familiar – visíveis e alvo de produtos financeiros a que antes não tinham acesso.
É fato que os investimentos estão mais elásticos e os fundamentos para receber os aportes mais difíceis, mas o panorama é bom para 2015. Mesmo sendo um ano difícil para a economia brasileira, os fundamentos de longo prazo mantêm atraentes os investimentos e podem ajudar o país, inclusive, na retomada do crescimento.
* Rodrigo Bertozzi é CEO da B2L Investimentos S/A.