Por Marcelo Reis*
Em 2020 quando a OMS reconheceu a situação da COVID-19 como sendo uma pandemia, logo começou um movimento em que algumas pessoas negavam a seriedade da situação. Em alguns países, o estado de emergência demorou muito a ser reconhecido. Por este comportamento, os cenários mais realistas que apontavam para uma plena recuperação econômica mundial, em não menos de 2 anos, eram mal vistos e desacreditados. No entanto, agora, com 1 ano de pandemia é exatamente o que vem se mostrando real.
Esperar que o mundo volte a ser como antes é utópico. A nova normalidade já vem sendo implantada na prática, a forma de trabalhar, fazer negócios, consumir e gerir a vida mudou de forma definitiva. Neste artigo, separei alguns aprendizados, melhorias e também pontos de atenção que a COVID trouxe.
Varejo: sobrevivência depende de transformação
Logo no início de 2020 o comércio sofreu o impacto inicial e começou a pedir ajuda ao governo, que também não estava preparado para fornecer este tipo de socorro ao empresário. As empresas, principalmente as pequenas e médias, que ficaram “sentadas esperando que tudo fosse passar em 3 ou 6 meses”, e não se transformaram, quebraram. Sem fôlego financeiro muita gente fechou e, quem sobreviveu, tocou os negócios baseado no delivery.
O calendário comercial ficou mais “lento”, não teve a aceleração típica das datas sazonais ao longo do ano e nem o esperado pico de consumo em dezembro. O sentimento que se estabeleceu é de 2021 quase como uma continuação de 2020.
Online não é diferencial, é parte essencial da operação de qualquer empresa
O online entrou de vez na estratégia das empresas, não adianta pensar nele como uma parte isolada. O digital precisa ser parte do planejamento principal. A unificação da qualidade e tipo de atendimento ao cliente independente do canal foi um importante aprendizado.
Antes da pandemia, era comum o cliente ter um tipo de experiência na sua jornada de compra presencial muito diferente da ofertada pela mesma marca no canal online. Ou seja, dependendo da escolha do canal para compra, o cliente terminaria sem a mesma assistência, sem acesso à promoção ou sem a personalização do seu perfil de compra. Com clientes mais exigentes e conscientes de suas compras as marcas precisaram adequar e garantir a mesma qualidade em qualquer canal.
Logística como parte fundamental do sucesso nas vendas
As adaptações realizadas nos processos logísticos também acrescentaram qualidade na relação consumidor-marca. Podemos dizer que esta multicanalidade está funcionando bem no momento em que o cliente pede um produto pelo site e este pedido é encaminhado para a loja mais próxima da rede e em seguida, entregue. Não vai mais para um centro de distribuição localizado distante e que acrescenta tempo de espera.
A relação entre grandes marcas e clientes era distante, cada um estava em uma ponta desta equação comercial, que era recheada de intermediários. Com o fechamento dos comerciantes que faziam esta ponte, as marcas entenderam que não tinham mais clientes pois na verdade eles eram dos lojistas e não das indústrias. Agora, o fornecedor vende direto para o consumidor final e se tornou também um concorrente do varejista, tornando ainda mais acirrado o mercado para o pequeno empresário.
O consumidor mudou e mais do que nunca valoriza experiência
A queda no consumo reflete também uma mudança de hábito da população que está menos consumista. Antes, as pessoas iam aos shoppings passear e sempre saiam com uma sacola, muitas vezes sem nem saber direito o que estavam comprando. Do ponto de vista econômico, mantinha a roda girando e gerava empregos. Ao mesmo tempo, a compra sem necessidade é contraproducente do ponto de vista ambiental, também com muita geração de lixo.
Com esta mudança de comportamento, o desafio maior, fica na mão das categorias que sobreviviam massivamente das compras por impulso. Um bom exemplo são as papelarias e lojas de miudezas em que comprávamos algo no meio do caminho por lembrar que precisávamos, mas que não sairíamos de casa apenas em busca do item. Essas empresas precisarão encontrar novas formas de sobreviver.
O consumo cada vez mais vai migrar para a experiência, para o viver e aproveitar efetivamente o momento. Atualmente isto está na contramão da queda no turismo internacional. Contudo, a tendência já se apresenta na busca de turismo pelos moradores em suas próprias cidades. Os residentes locais estão explorando mais os hotéis, parques e atrações turísticas de sua região. No futuro, esta tendência se expandirá para além das fronteiras, na retomada do turismo internacional.
Relação vida X trabalho – A vida desacelerou, a qualidade de vida virou foco e agenda cheia não é mais sinônimo de produtividade
Todos nós nos transformamos muito como profissionais e como empresa no último ano. Uma coisa que veio para ficar foi o home office, híbrido ou integral. A desconfiança que se tinha sobre este modelo de trabalho desapareceu à medida que se mostrou eficaz. Grandes empresas estão adotando o home office.
Com o objetivo de ficar perto das suas famílias, muitas pessoas se mudaram para cidades do interior, muitas vezes longe das sedes das empresas. Quem fez este movimento, percebeu que poderia ter um custo mais baixo associado a uma melhor qualidade de vida, e não querem mais voltar ao modelo antigo. Vai ser um grande desafio para as empresas convencer os funcionários de voltarem ao modelo fixo no escritório. O modelo de home office ou trabalho de qualquer lugar é algo que veio para ficar.
Vemos a desaceleração da vida. Qualquer um de nós, que faça uma reflexão dos dois últimos anos, pode perceber que tínhamos uma vida extremamente agitada. Saíamos antes das 07h da manhã de casa, passávamos o dia nos movimentando entre trabalho, reuniões, almoços e outras atividades. Em algumas funções profissionais, isso incluía deslocamentos constantes entre cidades, inclusive com aeroportos em alguns casos.
O setor aéreo segue extremamente afetado, e as viagens de negócio praticamente desapareceram. A redução mais contundente foi nos vôos internacionais, mas com um grande declínio nos nacionais também. As pessoas começam a criar novos hábitos e as empresas precisam se adaptar a esta mudança toda. A maioria das viagens executivas que aconteciam foram substituídas e temos sobrevivido com ferramentas digitais, de forma 100% remota.
A necessidade de reunião presencial ficou provada em alguns casos, como conhecer clientes e fornecedores, para gerar uma conexão mais pessoal. Porém, o mesmo não aconteceu na esmagadora maioria dos encontros que demandavam esforço e dinheiro para se deslocar e reunir.
A agenda e a vida estão mais balanceadas para família e trabalho, aprendemos e agora quereremos ter tempo para fazer nossas coisas pessoais. As pessoas se desapegaram do vício de ter a agenda tão cheia que não sobrasse nem tempo para parar e fazer uma refeição ou respirar.
Os riscos do comodismo em longo prazo
No outro prato da balança, está um efeito colateral: se acomodar. Agora, para sair de casa para cumprir alguma tarefa presencial as pessoas precisam de um empurrão a mais, mais incentivo do que era necessário antes para sair da inércia. As pessoas estão questionando de forma mais forte a necessidade de estar presencialmente nos lugares. A necessidade do movimento passou a ser muito mais questionada.
Em longo prazo, este padrão de comportamento pode levar à prostração e a ausência de movimento começar a causar problemas de saúde ligados ao sedentarismo. A preocupação com a saúde física, com a atividade consciente e com a saúde mental precisam estar constantemente sob nossos olhos.
Dependência de suprimentos estrangeiros fez indústrias repensarem as cadeias de suprimentos
Um aprendizado importante é que por mais que o conceito de globalização funcione, na hora de uma crise como é a pandemia, vale a defesa individual. Cada nação quis se proteger, cuidando de suas fronteiras, providenciando suas vacinas e adotando políticas protetivas.
A dependência de fornecedores internacionais se mostrou um “calcanhar de Aquiles” para muitos países que dependiam exclusivamente de compras da China e ligou um alerta significativo sobre buscar sua autonomia, ou soluções alternativas, caso não tenha importação em algum momento no futuro.
Ou seja, começamos a ver um patriotismo nas indústrias, visando garantir seus processos produtivos sem dependências extremas externas. Agora, as produções são pensadas com planos B, C e D para garantir que não pare.
Atenção ao planejamento
Vejo nas indústrias, especialmente as latinas, que sempre foram muito orientadas à ação, uma tomada de atenção para o planejamento estratégico com uma ênfase que não se via antes.
A análise de cenários ganhou força e passou a ser mais valorizada. A tomada de decisões baseada em projeções embasadas em previsões realistas, torna os rumos da empresa mais assertivos. Se a emoção dominava antes da pandemia, foi o planejamento quem manteve as empresas vivas durante o período.
*Founder MR16 Consultoria
As abordagens de ensino têm sido aprimoradas no decorrer dos anos. Essa disrupção precisa ser acelerada ainda mais no ensino corporativo, tornando-o leve e prazeroso tanto para quem repassa as informações quanto para quem recebe.
Nessa jornada, principalmente em cursos e conteúdos a distância, recursos como gamificação, quizzes, realidade aumentada e virtual são utilizados com sucesso. É necessário ir além das abordagens acadêmicas tradicionais onde se utiliza a aprendizagem mecânica e exames! Chega de lidar apenas com conteúdos teóricos, memorização das aprendizagens e realização de exames.
O caminho que pode ser tomado é o de oferecer abordagens mais pragmáticas de aprendizagem. E um desses métodos modernos é o Aprendizado Baseado em Projetos (Project-Based Learning na sigla em inglês).
Esse tipo de aprendizagem dá aos alunos a oportunidade de desenvolver conhecimentos e habilidades por meio de projetos envolventes em torno de desafios e problemas que eles podem enfrentar no mundo real.
Na prática, instituições de renome mundial como Harvard já usam o Project-Based Learning em seus cursos de graduação. A Fundação Bill e Melinda Gates costuma incentivar a utilização da metodologia em escolas dos Estados Unidos. Na Europa também é comum haver o financiamento de projetos em todos os estágios de aprendizagem.
É uma revolução em relação ao que é proposto na estrutura cognitiva de outros métodos de aprendizagem. Ela se inicia com a Criação e termina com a Lembrança de aspectos e Habilidades importantes. Como então essa metodologia é capaz de revolucionar a aprendizagem? Confira a seguir:
1. Constrói soluções
A Aprendizagem Baseada em Projetos começa com o projeto e a construção de soluções que visam resolver os problemas da vida real, com os alunos motivados a criar um modelo que seja a solução de uma dificuldade enfrentada realmente.
2. Avalia a viabilidade
A Aprendizagem Baseada em Projetos treina professores e tutores para, juntos dos alunos, testarem a viabilidade do modelo construído – esta é a técnica de avaliação da segunda fase. Ela prega que os alunos avaliem a viabilidade, a examinando de acordo com a solução do problema real.
3. Examine e repita
Quando a avaliação é feita, os alunos são motivados a avaliar com atenção os projetos até atingirem o objetivo. A Aprendizagem Baseada em Projetos propõe que os alunos dividam as etapas e funções e se concentrem no sucesso do projeto.
4. Funcionalidade em outras áreas
A quarta etapa das técnicas de Aprendizagem Baseada em Projetos é explorar a funcionalidade do projeto e colocá-lo em prática, mesmo em um objetivo diferente do original.
5. Reconhecer os elementos multidisciplinares
No quinto estágio da Aprendizagem Baseada em Projetos, os facilitadores e os alunos juntos reconhecem todos os elementos multidisciplinares que foram utilizados. É quando os tutores conscientizam os alunos sobre diferentes habilidades e disciplinas utilizadas. Por exemplo, ao construir uma ponte, os conceitos de engenharia, bem como os físicos e arquitetônicos, são levados em consideração.
O sexto e último estágio da abordagem Aprendizagem Baseada em Projetos é perceber as conclusões importantes e significativas do modelo que eles construíram. É aqui que os alunos se lembram do que aprenderam e das habilidades que desenvolveram.
Alguns modelos mais antigos mostram uma hierarquia de aprendizagem. Mas, na realidade, não há um estágio de aprendizagem que esteja abaixo ou acima dos outros. Cada aluno tem uma mente dinâmica e a Aprendizagem Baseada em Projetos é projetada para manter os alunos no centro da abordagem, o que garante que eles adquiram conhecimento e habilidades pragmáticas em vez de apenas conceitos teóricos.
Você já tinha pensado em colocar esses conceitos em prática dessa maneira?
Administrador de Empresas com especialização em Gestão de Conhecimento e Storytelling aplicado à Educação*
Falar sobre o crescimento do consumo digital ao longo dos últimos meses é, mais uma vez, constatar tudo que vimos ser diretamente impactado pela pandemia e pelo distanciamento social. A mudança de comportamento do consumidor para um mundo quase que integralmente on-line, a grande demanda gerada pelos e-commerces e os desafios logísticos desse cenário deixaram profundas marcas que, com certeza, farão parte do cotidiano da nossa cultura mercadológica daqui para frente.
Ao passar de 2020, vivenciamos diferentes fases e incertezas. Quando nos enxergamos socialmente afastados e postos diante de uma realidade antes desconhecida, tudo foi colocado à prova. Nessa fase inicial, experimentamos a especulação sobre o recuo da globalização. A pandemia possibilitou que muitos críticos da conectividade global acreditassem que sofreríamos uma crise sem precedentes, com a formação de blocos econômicos rivais, a volta da produção nacional, a criação de cadeias de suprimentos mais curtas e a expansão das indústrias nacionais essenciais.
Contudo, como grande ensinamento, tornou-se quase palpável que a globalização está mais viva do que nunca. O consumo digital global, o comércio e a logística funcional ganharam forma e foram as grandes forças locomotoras desse período que ainda vivenciamos. Com base nesse entendimento macro, esmiuçar as mudanças de hábitos do consumidor digital e a chegada permanente do alto número de compras on-line torna-se viável e necessário.
O crescimento da utilização dos e-commerces é um fato, e a curva do aprendizado logístico nesse curto período é positivamente notória, o que prova, mais uma vez, a tremenda força da globalização. Além disso, o comércio digital estimulou também o e-commerce cross-border, e o que, antes, tratava-se de uma tendência, hoje podemos chamar de realidade.
O consumo eletrônico superou as barreiras transfronteiriças no Brasil e, ao final do último ano, o País fechou sua balança comercial com um superávit de US$ 50,9 bilhões. Circunstância, essa, possibilitada devido aos estudos dos cenários econômicos globais, à preparação de plataformas para o recebimento das novas demandas e à escolha de melhores operadores logísticos pelos comerciantes.
Ou seja, a cadeia logística integrada tornou-se fundamental nesse processo, e a “entrega de última milha”, também conhecida como last mile, ganhou uma notoriedade ainda maior. Com a centralização de poder nas mãos do consumidor, outra tendência que agora se encontra como realidade de mercado, essa etapa, que consiste no trajeto entre os centros de distribuição dos vendedores até a entrega final na porta do cliente, passou a fazer parte determinante na rotina das lojas e dos consumidores on-line. Além de ser uma barreira no processo logístico brasileiro, qualquer possível problema na “entrega de última milha” pode impactar diretamente o relacionamento, a satisfação e a fidelidade do consumidor com a marca.
Assim, vale ressaltar uma vez mais que, para evitar transtornos, perda de lucros e clientes, o planejamento logístico é o diferencial. Pesquisar, analisar, comparar valores e tempo de trânsito tornaram-se parte essencial do processo de vendas, bem como estar alinhado com todas as alternativas que apareceram no mercado exclusivamente para essa etapa “de última milha”. Motocicletas, bicicletas, drive-thrus, drones, e-boxes e pick-up stores são algumas das possibilidades que ganharam destaque no ano passado.
Esse cuidado na relação com o consumidor, com suas demandas no centro das operações, fez com que, além da atenção reforçada à last mile, outra necessidade surgisse: a preocupação com a logística reversa. Segundo pesquisa do Conselho de Logística Reversa Brasileira, mais de 75% dos compradores pesquisam os detalhes de como o retorno do produto poderá ser realizado, caso haja necessidade de devolução ou troca. Todo esse processo passou a demandar proporcionalmente mais agilidade e eficiência de qualquer plano logístico já existente antes de a realidade ser impactada pela pandemia.
Com isso, datas de altos picos de vendas, como a Black Friday e o Natal também tiveram destaque em 2020. De acordo com o Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA), no feriado religioso, por exemplo, o e-commerce cresceu 15,5%, em comparação ao mesmo período de 2019. Consequentemente, com o mercado já fortemente aquecido, devido ao distanciamento social e ao crescimento do consumo digital, foi possível acompanhar o fortalecimento das novas tendências que passarão a ser vistas além de 2020.
O “esquenta” para os períodos de alta no e-commerce, a necessidade de preparação logística com mais antecedência, para suprir todas as demandas dos clientes, a automatização de processos e políticas de envio de remessas e o mercado cada vez mais competitivo são apenas alguns dos pontos que foram trazidos como aprendizado nos últimos meses e que, agora, tornaram-se parte integrante da cadeia de consumo. Assim, é possível dizer que, apesar das dificuldades, a passagem do último ano foi de extremo crescimento para o setor. Evidenciando, mais uma vez, que contar com um parceiro logístico com experiência e qualidade na entrega nacional e internacional tornou-se um pré-requisito para um ótimo desempenho ao longo deste e dos próximos anos.
*Gerente comercial & eCommerce da DHL Express.
Nas duas últimas décadas o mundo passou por uma revolução tecnológica sem precedentes. Nós, por estarmos vivendo essa revolução, talvez não tenhamos entendido o quão significativa ela é.
A partir do momento em que o mundo se digitalizou e se interconectou, muitas portas se abriram para infinitas possibilidades no consumo, nos negócios e no ambiente, portas essas que ainda irão se concretizar.
Imagine só pensar em um mundo onde não pudéssemos nos conectar instantaneamente? Em um mundo em que a informação não estivesse ao alcance de um smartphone?
Muito mais virá. Em poucos anos nossos carros farão grande parte do trabalho de dirigir por nós, os smartphones avaliarão como anda nossa saúde, os aparelhos eletrônicos de dentro da nossa casa estarão conectados entre si, observarão e aprenderão com nossos hábitos e serão todos controlados pelo nosso smartphone.
E é claro que a energia solar fotovoltaica não pode faltar nesse pacote. Existe algo mais inovador e disruptivo do que gerar a sua própria energia? Colher a energia do sol de onde quer que você esteja? Mas, muita coisa vai avançar também na energia solar. As baterias para armazenamento da energia gerada vão se popularizar. Os sistemas fotovoltaicos estarão sob o nosso controle e poderão fazer muito mais. Haverá updates de hardware e software nos próprios sistemas ao passo em que a tecnologia avançar.
Há gente séria que acredita que a transformação está apenas começando e que a mudança nos próximos anos será enorme e exponencial. No mundo de hoje já não existe uma separação clara entre quem usa ou não tecnologia. Todos nós somos impactados por tudo o que acontece no universo digital, invariavelmente. Saber utilizar essa onda de mudança para maximizar o nosso ganho com a inovação tecnológica é, portanto, uma decisão inteligente.
Hoje podemos comprar produtos aos quais não tínhamos acesso há poucos anos e recebê-los em nossa casa alguns dias depois, aprender uma infinidade de coisas novas sem gastar quase nada, optar por gerar a energia que consumimos, entre outras infinitas possibilidades que estarão cada vez mais disponíveis.
Vale a pena o esforço de aprender um pouco sobre como esse novo universo de possibilidades funciona para podermos nos utilizar dele de forma mais natural e, quem sabe, se for seu caso, ganhar dinheiro com isso!
*Sócio-diretor da Blue Sol Energia Solar
A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) tem sido assunto frequente no mundo corporativo e na imprensa. Sancionada em 2018, ela entrou em vigor em setembro de 2020 com o objetivo de regulamentar o tratamento de dados pessoais de clientes e usuários por parte de empresas, sejam elas públicas ou privadas. O objetivo é assegurar que as informações disponibilizadas não sejam usadas de formas que não tenham sido autorizadas. Uma proteção aos consumidores e uma grande responsabilidade para as companhias que hoje enxergam dados como ouro.
Para se ter ideia do valor de uma informação pessoal, é importante saber que grandes empresas já fazem a medição de seu “valuation” (termo em inglês que significa “Valoração de Empresas”) pelos ativos de dados que têm. A Coca-Cola, por exemplo, uma das marcas mais valiosas do globo, tem informações de consumo do mundo inteiro que estão começando a fazer parte de seu valor global. No entanto, esses dados não são da companhia, mas sim do João, da Maria e de tantos outros consumidores do popular refrigerante e de outros famosos produtos.
E por que a atribuição de tamanho valor a algo que pertence a terceiros? Porque dados pessoais são usados para gerar inteligência de negócio, além de poder proporcionar maiores fluxos de caixa futuros às companhias. Marcas que sabem com quem estão falando saem na frente. Entender o público profundamente nunca foi tão precioso.
E uma vez que nós, pessoas físicas, cedemos nossas informações às empresas precisamos ter consciência do que será feito com elas – como serão usadas, armazenadas e quem terá acesso a elas. Termos de concordância se tornaram mandatórios e, a partir do momento em que aceitamos compartilhar nossas informações, as empresas são obrigadas a cuidar delas, evitando ao máximo seu vazamento.
Da teoria para a prática
Lanço aqui um questionamento: A LGPD vai fazer com que as empresas não troquem dados entre si? É provável que não. Inclusive, o consumidor já vem sendo avisado sobre essa possibilidade. Recentemente, o WhatsApp enviou aos usuários uma atualização de sua política de privacidade, e informou que passará a compartilhar os dados do seu público com as empresas do Facebook. Imaginam quantas empresas o Facebook tem?
É importante que esses termos passem a ser lidos pelos consumidores com atenção, antes de serem assinados, evitando assim, que se espantem caso temas centrais de suas conversas com colegas no aplicativo de mensagens começarem a surgir em forma de anúncio no seu feed.
Voltando ao início da reflexão e considerando que o valor dos negócios hoje se baseia em dados, seria inocência pensar que eles não serão usados como moeda. Mas o que pode ocorrer em alguns casos é a troca de dados sem a identificação da pessoa. A quem aquele dado pertence não seria o que mais importa. O que vale é contar com os atributos como fonte de aprendizado de máquina. Dessa forma, se creditaria mais ética ao processo.
O Brasil já conta com a ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados) e uma de suas atribuições é punir empresas que estiverem desrespeitando a lei. O órgão, porém, ainda está em maturação e não existe uma equipe 100% definida para dar conta do desafio. Hoje, a fiscalização na prática ocorre em contratos, sob pena de multa, nos quais se exige que fornecedores estejam aderentes à lei. Como não era de se estranhar, o cumprimento das regras se deu antes pelo fórceps econômico do que pela consciência em si.
Aqui, o compartilhamento de dados ainda costuma ser mais visto como algo que fere a nossa privacidade de forma negativa. Um exemplo é o caso emblemático de uma conhecida empresa que foi multada porque estava usando a geolocalização de usuários e trabalhando esses dados sem o consentimento deles. Quando o consumidor toma um grande susto ao, por exemplo, passar em frente a uma loja e imediatamente receber uma mensagem com sugestão de compra naquele local, ele pode se sentir invadido e exigir seus direitos de privacidade.
Sob outra perspectiva
Mas se pararmos para pensar, a personalização – tão importante nas relações comerciais atuais, e valorizada pelos cidadãos – só é possível graças ao uso de dados. Importante lembrar que a utilização correta das informações pessoais pode trazer benefícios para os dois lados – empresa e consumidor.
Imagina se na hora de passar no caixa de uma farmácia, por exemplo, você soubesse como o seu CPF pode ser usado depois daquela compra? Se o atendente deixasse claro que a drogaria usa alguns dados para entender o padrão de consumo e avaliar se pode oferecer condições melhores para produtos diversos, inclusive para seus medicamentos de uso contínuo? Se a farmácia deixasse bem claro que, se puder compartilhar sua informação com o laboratório fabricante do medicamento, para ele analisar a possiblidade de te vender sempre com desconto um remédio que vai usar para o resto da vida, você não iria achar legal?
Claro que tudo isso precisa ser feito com o aceite dos consumidores. Assim, eles saberiam tudo o que estão fazendo, qual a intenção de uso e, também, teriam o total direito de falar no caixa da farmácia, “por favor apaga meu CPF”. E o atendente na mesma hora responder: “Sim senhor(a), veja aqui, não tem mais nada registrado”.
As preferências sugeridas pela Netflix são outro exemplo claro. Quanto maior a personalização, melhor tende a ser a experiência do usuário. O grande problema é que muitos business, na ânsia de coletar o máximo possível de informações, se esqueceram, ou não se preocuparam tanto em tomar conta delas. Se isso acabou acontecendo nos últimos anos, foi motivo para acender um alerta vermelho perante as autoridades de defesa do consumidor, o que incentivou a criação da LGPD.
Espero que, em um futuro próximo, possamos reconhecer os benefícios que a lei nos trouxe e ainda nos trará, e que a conduta responsável de empresas seja, de fato, colocada em prática. Dados são tesouro, para consumidores e companhias. Que cada um faça a sua parte a fim de usufruí-los com a máxima sabedoria.
*CIO da Sercom e CEO da ContactOne
O plástico tem sido tema central de amplos debates públicos, especialmente em relação a seus riscos ambientais. Em São Paulo, desde 1º de janeiro, nenhum estabelecimento comercial pode fornecer copos, pratos, talheres, agitadores para bebidas e varas para balões de plásticos descartáveis.
De acordo com a nova lei, esses produtos agora devem ser substituídos por outros elaborados com materiais biodegradáveis, compostáveis ou reutilizáveis. No entanto, esta alternativa, além de não resolver o problema ambiental, ainda vai gerar um novo tipo de lixo na natureza, problema com o qual o poder público não poderá lidar da maneira correta. Sendo assim, a emenda pode ser inúmeras vezes pior do que o soneto.
Produtos com embalagens que afirmam ser “biodegradáveis” ou “compostáveis” na grande maioria das vezes se degradam apenas em condições especiais e isso pode complicar os esforços de reciclagem. Portanto, aquele copo de café que possui logotipo indicando ser biodegradável não vai se decompor entre os compostos orgânicos que as pessoas têm em casa, mas, para se degradar adequadamente, precisará ser enviado para instalações de compostagem industriais.
O processo de compostagem industrial envolve alto calor e umidade precisamente controladas, entre outras condições, e não está disponível na maior parte do país. Já se este lixo for parar em um aterro, ficará lá por muito tempo, porque é improvável que seja exposto a condições que ajudariam a se decompor. Além disso, a produção desses itens consome mais recursos, cria mais resíduos e resulta em mais poluição do que a produção de itens plásticos descartáveis.
Obviamente, entendemos ser fácil apontar o plástico como o grande vilão que precisa ser proibido, afinal ninguém no mundo fica feliz com imagens de mares e rios repletos de embalagens e com animais morrendo por conta do produto. No entanto, banir os plásticos de consumo não soluciona os problemas, mas apenas desvia a atenção de soluções reais e, em vez disso, prejudica os consumidores e o meio ambiente.
Para resolver a questão ambiental do plástico, é preciso melhorar a qualidade das práticas de gestão de resíduos, produzir materiais que tenham o menor impacto ambiental possível, investir em coleta adequada e incentivar a reciclagem disponibilizando locais especializados acessíveis para que a população possa fazer o descarte do material que utiliza em seu dia a dia. A grande variedade de formas em que pode ser reciclado também precisa ser vista como um benefício do material. Isso não só é mais ecológico, mas também torna o plástico um material muito flexível para as necessidades do mundo moderno.
Outro ponto importante: com a trágica chegada da pandemia, os argumentos e o debate sobre o uso do material também ganharam outra direção: a saúde e a vida. A pandemia transformou a produção e uso do plástico em um material essencial de sobrevivência. Nos hospitais e laboratórios, ambientes essenciais na luta pela vida, o plástico está sendo utilizado em grande escala para produção de máscaras, luvas, seringas, tubos de ensaio, cateteres e outros produtos.
Além disso, aditivos que inativam o Sars-Cov-2 inseridos a produtos plásticos permitiram que diversos objetos e superfícies com as quais as pessoas têm contato diário em lugares públicos e em suas casas oferecessem uma barreira extra de segurança contra a doença. Este é o caso do Alpfilm Protect que já contava com propriedades antifúngicas e bactericidas graças à presença de micropartículas de prata e que, com a pandemia, passou por uma série de estudos para adequações em sua composição com o objetivo de assegurar sua eficácia antiviral, em especial contra o novo coronavírus.
Já no espaço doméstico, o plástico foi o material que mais entrou nas casas. Itens básicos de sobrevivência, como água e alimentos, tiveram alta de estoque: muitas vezes embalados em materiais plásticos. Também podemos encontrar o material em máscaras n95. Além disso, com o plástico é possível vedar produtos e alimentos, o que evita a degradação rápida da comida, além da contaminação por doenças, garantindo a segurança alimentar e também evitando o desperdício de alimentos, especialmente em um momento com tanta instabilidade econômica e desemprego.
Não há dúvida de que a crise dos plásticos é um problema sério e que precisamos encorajar uma mudança de atitude em relação à mentalidade de uso único da sociedade com pessoas favorecendo o consumo inteligente e o pensamento sobre o ciclo de vida, além de realizar seu descarte apropriado. Mas devemos ter em mente os benefícios ambientais e econômicos que os plásticos oferecem e usar a inovação para aderir à melhor solução.
*Diretora de Comércio Exterior na Alpes.
A sustentabilidade tem ocupado um espaço cada vez mais relevante na agenda de países e empresas. No hemisfério norte, proposta do parlamento europeu visa reduzir os índices de emissões de gases de efeito estufa em 60% ao longo dos próximos dez anos, enquanto países como o Brasil se veem pressionados a agir no mesmo sentido a fim de não perder mercado para os seus produtos. As pressões ambientais são cada vez mais claras e seus impactos mais evidentes em cadeias inteiras de valor, inclusive na produção de alimentos e bebidas.
Em nosso setor, muito tem sido discutido sobre a importância da digitalização para a gestão das fábricas e o seu potencial para reduzir perdas e gerar ganhos em eficiência e produtividade. Ainda que todos esses pontos sejam inquestionáveis, também cabe um olhar sobre o papel da digitalização para a adequação dos processos fabris às novas diretrizes ambientais. Afinal, o investimento em sustentabilidade não é moda, mas um pilar estratégico que deve nortear a condução de qualquer negócio.
A simples digitalização dos dados de desempenho das máquinas tem o potencial de gerar ganhos substanciais para a indústria, desde aspectos operacionais a questões relacionadas à sustentabilidade. Por exemplo, ao gerir os dados de forma digital, operadores ganham maior visibilidade sobre os processos da fábrica e sobre o desempenho de cada uma das máquinas instaladas, podendo evitar falhas, desperdício de utilidades, de matéria-prima e até mesmo do produto final.
Ao agir dessa forma, a indústria não somente ganha em produtividade, mas também evita consumir insumos, água e energia em processos ineficientes e em desacordo com um modelo de operação sustentável. Principalmente no caso dos dois últimos itens, o menor consumo de água e energia contribui diretamente para o atingimento de metas de sustentabilidade – ainda que estes não sejam objetivos isolados no modelo de operação de uma empresa no que diz respeito à responsabilidade ambiental.
Na verdade, o tema precisa ser analisado sob uma perspectiva ampliada. Segundo a Food & Drug Administration (FDA), de 2013 a 2018 os recalls de alimentos e bebidas aumentaram em cerca de 10%. Isso significa um volume enorme de produtos sendo direcionados para o mercado para então serem recolhidos. Além dos custos associados à fabricação desses itens, há também o custo atrelado ao seu transporte das fábricas para os centros de distribuição e varejo. Ou seja, emissões de gases de efeito estufa atreladas ao transporte e recolhimento desses produtos que poderiam ser evitadas.
Não coincidentemente, as iniciativas que visam reduzir o impacto ambiental não se limitam às fábricas de forma isoladas, mas cobrem cadeias inteiras de valor. Na Tetra Pak, assumimos o compromisso de zerar as emissões líquidas de carbono em todas as nossas operações globalmente até 2030. Até 2050, temos o objetivo de zerar as emissões dentro da cadeia de valor em que atuamos. Para atingir este objetivo, não contamos unicamente com equipamentos de processo e envase que sejam ambientalmente mais eficientes, mas também com tecnologias digitais que possam levar mais inteligência aos produtores de alimentos e bebidas e que contribuam para um modelo de produção sustentável, conforme exemplos anteriores.
Em todo o mundo, as legislações relacionadas à responsabilidade ambiental têm ficado cada vez mais rígidas, gerando impactos para países desalinhados às novas diretrizes globais e às empresas pouco comprometidas com as metas de preservação do meio ambiente. O investimento em soluções que possam reduzir a pegada ambiental da indústria serão cruciais na nova realidade. Além de contribuir com as exigências de uma sociedade mais atenta à sustentabilidade, de quebra as novas tecnologias elevam a eficiência da indústria e a qualidade dos produtos entregues ao mercado.
Diretor de portfólio de Serviços da Tetra Pak para as Américas*
O Blog Industrial acompanha a movimentação do setor de bens de capital no Brasil e no exterior, trazendo tendências, novidades, opiniões e análises sobre a influência econômica e política no segmento. Este espaço é um subproduto da revista e do site P&S, e do portal Radar Industrial, todos editados pela redação da Editora Banas.
Tatiana Gomes, jornalista formada, atualmente presta assessoria de imprensa para a Editora Banas. Foi repórter e redatora do Jornal A Tribuna Paulista e editora web dos portais das Universidades Anhembi Morumbi e Instituto Santanense.
Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), cursando MBA em Informações Econômico-financeiras de Capitais para Jornalistas (BM&F Bovespa – FIA). Com sete anos de experiência, atualmente é editora-chefe da Revista P&S. Já atuou como repórter nos jornais Todo Dia, Tribuna Liberal e Página Popular e como editora em veículo especializado nas áreas de energia, eletricidade e iluminação.