Indústria do cimento reduz emissão de CO2 e projeta neutralidade no setor até 2050
Iniciativa,Investimento,Meio Ambiente Industrial,Oportunidade,Perspectivas | Por em 3 de julho de 2022
A redução da emissão de gases de efeito estufa, visando alcançar a neutralidade em carbono até 2050, tem sido um dos principais desafios do setor industrial nos tempos atuais. Em apoio à agenda climática, a indústria do cimento tem promovido esforços significativos para reduzir o impacto gerado ao meio ambiente, com ações que levaram o Brasil a se tornar uma referência mundial como um dos países que emite a menor quantidade de CO2por tonelada de cimento produzida no mundo.
Considerada uma atividade intensiva na emissão de gases de efeito estufa, a indústria cimenteira responde, globalmente, por cerca de 7% de todo o gás carbônico emitido pelo homem. Entretanto, em função de ações que vêm sendo conduzidas há décadas pelo setor, bem como do próprio perfil de emissões nacionais, no Brasil essa participação é de quase um terço da média mundial – ou 2,3% – segundo o Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa.
A agenda de carbono é o maior e mais importante compromisso com o meio ambiente já firmado pela indústria do cimento. Tanto que, há quase 20 anos, o setor criou o que é hoje considerado o maior banco de dados de emissões e indicadores ambientais de uma atividade industrial no mundo, com o objetivo permanente de mitigar as referidas emissões. Este banco de dados é abastecido por oito associações e 48 das maiores empresas cimenteiras do planeta, cobrindo cerca de 850 fábricas no mundo todo.
“Mas esta posição de destaque, ao mesmo tempo em que é um reconhecimento ao esforço do setor no combate às mudanças climáticas, representa um enorme desafio: produzir o cimento necessário ao desenvolvimento do país, buscando ao mesmo tempo soluções para reduzir ainda mais as suas emissões de CO2”, destaca o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, Paulo Camillo Penna.
Diante desse cenário, o setor tem aprimorado e ampliado o uso de tecnologias como o coprocessamento de combustíveis alternativos para substituição de um insumo intensivo em carbono: o coque de petróleo – combustível fóssil usado na queima do calcário para se obter o clínquer, o principal insumo do cimento.
Iniciativas da indústria
Desde a década de 90, a Votorantim Cimentos realiza de forma pioneira no Brasil o coprocessamento com o objetivo de substituir o coque de petróleo por matérias-primas alternativas para gerar energia térmica para produção de cimento. Esta tecnologia permite promover a economia circular, destinando corretamente resíduos e biomassas, fortalecendo a cadeia de reciclagem e gerando renda para comunidades locais. O primeiro resíduo utilizado pela empresa no coprocessamento foi o pneu e, hoje, ampliou sua atuação para diversos tipos de biomassas, como o carroço de açaí, no Pará, e resíduos, como o CDR (Combustível Derivado de Resíduo) que usa o resíduo urbano não utilizado na reciclagem e na compostagem para produção de cimento, em São Paulo e Paraná. Somente em 2021, com a substituição energética, a empresa evitou o consumo de 525 mil toneladas de coque de petróleo, ou seja, cerca de mais de 13 mil caminhões desse combustível fóssil e importado que deixaram de ser comercializados, transportados e utilizados nos fornos de cimento.
“A agenda de mudanças climáticas é importante pelo nosso compromisso com a sustentabilidade e também significa competitividade. As indústrias mais competitivas serão aquelas com menor emissão de gases de efeito estufa. Já se observa uma intensa pressão dos diferentes stakeholders em relação a essa agenda. Afinal, a emergência climática é, em última instância, uma crise também econômica. Temos um plano robusto de investimentos para ampliar globalmente nossa capacidade de gerenciamento de resíduos”, afirma Álvaro Lorenz, diretor Global de Sustentabilidade, Relações Institucionais, Desenvolvimento de Produto e Engenharia.
A InterCement é outra empresa do setor que tem empregado esforços para reduzir o consumo de derivados de petróleo e consumir combustíveis alternativos por meio do coprocessamento. Em 2021, a iniciativa Biomassa Brasil, um projeto de economia circular integrado com o investimento social privado da empresa, disponibilizou a associações e cooperativas de agricultores oportunidades de desenvolvimento pessoal e fortalecimento de seus negócios. Tal processo viabilizou a compra e uso de cascas de baru, babaçu e licuri em substituição aos combustíveis fósseis, gerando renda para as famílias produtoras das comunidades da Bahia e de Goiás. Vale ressaltar que a quantidade total dos resíduos coprocessados pela InterCement Brasil no ano de 2021 foi de 352.935 toneladas — equivalente à geração de resíduos de uma cidade de cerca de 900mil pessoas, como Campo Grande/MS, João Pessoa/PB ou Natal/RN.
“Entendemos que o nosso papel como empresa é impulsionar impactos positivos nas regiões onde atuamos. Ter uma operação cada vez mais sustentável é um dos nossos caminhos para isso. Somente no último ano, deixamos de emitir 341 mil toneladas de CO2 por meio do uso de combustível alternativo como fonte de energia térmica para nossos fornos. Além disso, revisamos nossa estratégia de coprocessamento, ampliando nossa atuação como indústria recicladora e, até 2030, temos a meta de atingir 50% de substituição dos combustíveis fósseis em toda a cadeia produtiva, melhorando ainda mais nossos indicadores de emissões”, afirma Livio Kuze, CEO da InterCement Brasil.
Alinhada a seu compromisso com a sustentabilidade e as gerações futuras, a LafargeHolcim Brasil acredita que a descarbonização da indústria do cimento traz benefícios operacionais, econômicos, sociais e ambientais. Para tanto, a companhia já pratica uma matriz energética consolidada com mais de 50% de combustíveis alternativos com algumas unidades já atingindo patamares superiores a 80%. Para 2022, está prevista a utilização de mais de 350 mil toneladas de biomassa. Adicionalmente e muito alinhado aos princípios da economia circular, a empresa investe também no uso de CDRU (Combustível Derivado de Resíduo Urbano) com uma previsão de mais de 50 mil toneladas em 2022.
Só a utilização de biomassas e CDRU evitarão em 2022 a utilização de mais de 220 mil toneladas de combustível fóssil tradicional. “Como resultado destas e outras ações, do total de cimento hoje produzido pela empresa, mais da metade já apresenta emissão de CO2 inferior a 430 kg CO2/ton cimento. Ações para reduzir emissões são prioridade e fundamentais para a consolidação de um processo industrial mais sustentável. A empresa investe em pesquisa e já registra um dos menores níveis mundiais de emissão de CO2 por tonelada de produto. Vamos continuar avançando nesse tema”, destaca Adrianno Arantes, Diretor Industrial, Sustentabilidade e Geocycle da LafargeHolcim Brasil.
Em 2021, a Cimento Nacional, atingiu o percentual de 13% de redução de dióxido de carbono em relação a 2020, chegando a um importante resultado global nacional de 479 kg CO2 /t de cimento. Essa marca é fruto da jornada da descarbonização da empresa. Entre suas diversas ações, destaca-se o aumento gradativo da substituição térmica de combustíveis fósseis nos fornos de clínquer com o aumento das taxas de queima de resíduos, que chegou a 28% no ano passado. Ademais, a indústria tem ampliado as adições nos produtos e assegurado a diminuição do fator clínquer, investindo continuamente na otimização de seus processos produtivos, visando reduzir o consumo de energia elétrica e térmica. “Nossos desafios não param por aqui, afinal, a sustentabilidade é uma prática contínua na nossa empresa. Temos o compromisso, por meio de uma equipe qualificada e engajada, de contribuir para a preservação ambiental e trabalhar fortemente na redução da pegada de carbono dos nossos produtos, respeitando as pessoas, as instituições e o planeta”, afirma José Eduardo Ramos, CEO da Cimento Nacional.
Ciente do compromisso coletivo da indústria cimenteira nacional para a descarbonização da atividade industrial, em 2018, a Mizu — Cimentos Especiais deu início à implantação de um moderno sistema de coprocessamento nos dois fornos de clínquer na planta de Baraúna/RN, evoluindo de 5% para 35% a substituição térmica (média alcançada em 2022). Atualmente, o combustível alternativo adotado pela empresa é um blend energético composto por: biomassa; resíduos industriais e pneus inservíveis triturados e coletados na região Nordeste do Brasil. Com isso, a empresa deixou de queimar no período de 2019 a 2022 (1. Sem), em torno de 150.000 t de coque de petróleo, contribuindo para uma redução na emissão de CO2 acumulada de aproximadamente 300.000 t de CO2.
A CIPLAN investe em projetos de redução das emissões de CO2 como também na redução de custos de produção. Em uma de suas ações, foi inaugurada em março de 2022 a instalação de coprocessamento localizada na Fábrica Matriz, no Distrito Federal. A unidade está preparada para trabalhar com diversos tipos de combustíveis alternativos, como pneu picado, biomassas, CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Sólidos Urbanos) e resíduo classe II, substituindo os combustíveis fósseis, como coque de petróleo, podendo chegar a taxas de substituição térmica acima de 50% nos fornos. Em outra ação, a CIPLAN iniciou a operação da moagem e dosagem da pozolana em separado, permitindo aumentar as adições de pozolana nos cimentos, trazendo mais estabilidade e qualidade aos nossos produtos. Esta é mais uma iniciativa na busca de melhores produtos com menores emissões de CO2 e com menores custos. O objetivo da CIPLAN é de reduzir suas emissões de CO2 em 35% até 2030. “Com o objetivo de alinhar os produtos com as diretrizes de redução da emissão de CO2, a CIPLAN lançou no mercado dois novos produtos Este desenvolvimento foi possível graças à colaboração ativa de alguns clientes e profissionais da construção e da equipe de P&D da CIPLAN. Além de produtos mais ecológicos com menos emissões de CO2, nosso objetivo é proporcionar produtos de melhor qualidade aos nossos clientes”, afirma o presidente Sérgio Bautz.